sexta-feira, 10 de maio de 2013

Consulta de Hipocoagulação e Trombofilia

Muitos doentes apresentam doenças que necessitam de terapêutica hipocoagulantes, isto é, de medicamentos que reduzam a possibilidade de sofrerem de eventos trombo-embólicos. De entre esses doentes destacam-se os que sofrem de doenças cardíacas que cursam com um incremento no risco da formação de trombos que poderão originar AVC’s, doentes com antecedentes de tromboses venosas ou embolismos pulmonares e ainda doentes com alterações hereditárias (trombofilia) que toram o seu sangue mais “pró-coagulante” (coagulando mais facilmente).

Entre os medicamentos mais utilizados encontram-se os anti-vitamínicos K (Varfine e Sintrom) que necessitam de um controlo regular para poder garantir uma correcta acção, realizado através da determinação do INR (uma análise realizada através de uma pequena punção do dedo) de forma a ajustar a dose prescrita, garantindo a sua máxima eficácia anti-trombótica (se o INR for demasiadamente baixo) e reduzindo possíveis complicações hemorrágicas (se o INR for demasiadamente elevado). No final de cada consulta o doente recebe um esquema terapêutico individualizado e ajustado para o resultado do INR determinado durante a consulta médica.

A optimização da terapêutica com estes fármacos obriga a um controlo analítico periódico imprescindível já que:
- A dose é altamente individualizada (por razões genéticas, de idade, peso, ou de absorção e eliminação do fármaco)
- A resposta é variável no mesmo indivíduo ao longo do tempo (alterações da função hepática, mudança alimentares, medicamentosas ou novos problemas de saúde…)
- A margem terapêutica é muito estreita
- Pode haver necessidade de planear interrupções terapêuticas aquando da realização de actos médicos com potencial hemorrágico (cirurgias, extracções dentárias, endoscopias…)

Em doentes que sofreram tromboses venosas (ou outros eventos trombóticos) com indicação para realizar a pesquisa de alterações congénitas ou adquiridas que possam potenciar novos eventos idênticos, são pedidos testes específicos de forma a avaliar correctamente o risco de recorrência trombótica. Os testes de trombofilia devem ser interpretados por um médico com experiência na área, tendo em conta todos os factores relevantes que possam influenciar o resultado de cada teste individual, em cada doente.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Estudo pioneiro com células estaminais salvou duas crianças

Uma equipa de investigadores chineses conseguiu realizar com sucesso um tratamento pioneiro com células do tecido do cordão umbilical em duas crianças. O estudo foi recentemente publicado na revista «Transplantation», num artigo científico que descreve a primeira aplicação clínica em seres humanos de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical.

Os pacientes sofriam da doença do Enxerto Contra o Hospedeiro (GVHD), uma complicação comum dos transplantes, em que as células do dador atacam o organismo receptor (doente), podendo mesmo ser fatal.


David Ferreira, médico, explicou ao «Ciência Hoje» que os dois pequenos doentes, anteriormente transplantados, "receberam um enxerto (medula óssea) a partir de um dador [não foi auto-transplante] e o corpo receptor (hospedeiro doente) não é 100 por cento compatível geralmente reconhece o corpo como estranho e cada um dos seus órgãos, levando a esta doença”.
 O médico avançou ainda que “este resultado é bastante promissor, como imunomodelador”, dado que ambas as crianças apresentavam “um prognóstico reservado” e não respondiam a nenhuma das “terapêuticas aplicadas”. Contudo, sublinhou ainda que “carece de mais estudos”.

A ambas foi feita a infusão de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical, via endovenoso. Após cada administração, as manifestações da doença "melhoraram consideravelmente, num curto espaço de tempo e sem nenhum efeito adverso". Os pacientes foram tratados em Junho e continuam saudáveis.

Sendo assim, os resultados deste estudo indicam que o procedimento utilizado foi seguro e eficaz no tratamento da GVHD destas duas crianças. O tecido do cordão umbilical é rico em células estaminais mesenquimais e, contrariamente às mesmas células da medula óssea, as do tecido do cordão umbilical, são fáceis de obter e de forma indolor, através da colheita do tecido do cordão umbilical no momento do parto.
 http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=52372&op=all

terça-feira, 29 de março de 2011

Hemofilia

A 17 de Abril comemora-se o Dia Mundial da Hemofilia, data do nascimento do fundador da Federação Mundial da Hemofilia, Frank Schnabel, portador de hemofilia A grave, que dedicou a sua vida a melhorar a qualidade de vida de todos os doentes com hemofilia.

O que é a hemofilia?

O termo é aplicado a um conjunto de doenças que cursam com tendência para hemorragias (perdas de sangue) de difícil controlo. O sangue contém várias proteínas (factores da coagulação) que em conjunto controlam as perdas de sangue. Doentes com hemofilia apresentam um deficit quantitativo ou qualitativo de um (ou mais) desses factores da coagulação. Assim os hemofílicos sangram mais tempo e muitas vezes com hemorragias internas.

Que tipos de Hemofilia existem?

Existem 2 tipos principais, Hemofilia A (deficiência do factor VIII) e Hemofilia B (deficiência do factor IX), sendo a primeira 5 vezes mais frequente que a segunda. Existem deficits de outros factores que também se associam a perdas de sangue incluindo de factor I, II, V, VII, X, XI, XII e factor de von Willebrand (mais raras e normalmente menos graves).

Quem é atingido?

Hemofilia A e B tem como base uma alteração genética localizada no Cromossoma X (cromossoma sexual) do qual as mulheres têm 2 cópias, enquanto os homens somente têm 1 (o segundo é o Y). Assim, no caso dos homens, bastará 1 cromossoma com a mutação para o indivíduo ser hemofílico; enquanto que na mulher, esta teria que ter a mutação em ambos os cromossomas X (situação rara). Embora a situação de portadora seja mais frequente (um X com mutação, outro normal) os seus filhos podem ser doentes, mas as mães normalmente não apresentam sintomatologia. Em cerca de um terço dos casos não existe história familiar, tratando-se uma mutação “de novo”. Cerca de 1 em 10.000 pessoas tem Hemofilia A enquanto que 1 em 50.000 pessoas tem hemofilia B.

Também existem casos de hemofilia adquirida em que se desenvolvem auto-anticorpos contra factores da coagulação, surgindo mais tarte na vida, habitualmente em indivíduos com mais de 50 anos.

Quais os sintomas?

Extensos hematomas, hemorragias musculares e intra-articulares (joelhos, cotovelos e tornozelos), hemorragias prolongadas e hemorragias internas sendo a complicação mais temível a hemorragia cerebral.

Quais as complicações?

As hemorragias intra-articulares de repetição, em que a articulação desenvolve um processo inflamatório crónico que, evoluindo, origina uma artropatia terminal crónica, caracterizada pela destruição da cartilagem articular, dor crónica e limitação funcional grave. Em hemofílicos graves, não tratados, essa artopatia poderá condicionar severamente a sua qualidade de vida, instalando-se durante a adolescência.

Quais os graus de gravidade da hemofilia?

Clinicamente apresenta-se com vários graus de gravidade, directamente relacionados com o nível basal do factor deficitário em circulação. As hemofilias graves apresentam níveis inferiores ou iguais a 1%, as moderadas níveis entre 2 e 5%, e as ligeiras, níveis entre 5-40%. Assim sendo, hemofílicos severos apresentam hemorragias intra-articulares ou intra-musculares espontâneas. Os Hemofílicos moderados sangram excessivamente após traumatismos mínimos, enquanto os ligeiros apenas sangram em presença de traumas severos ou procedimentos cirúrgicos, necessitando de uma preparação prévia para poderem ser intervencionados.

Como se diagnosticam?

Nos estudos de coagulação realizados rotineiramente o Tempo parcial de tromboplastina activado (aPTT) apresenta-se alongado, e realizando posteriormente a determinação dos níveis plasmáticos dos factores VIII e IX (Hemofilia A e B) apresenta um valor anormalmente baixo.

Qual o tratamento?

O princípio geral é administrar o factor em falta, injectando-o na circulação. Os factores da coagulação podem ser administrados na forma de concentrados de factor, crioprecipitados ou plasma.

Os concentrados de factor podem ser derivados do sangue humano ou produzidos usando células geneticamente modificadas para produzir o factor respectivo. Doentes com hemofilia A ligeira, podem utilizar desmopressina, uma hormona sintética que estimula a libertação do factor VIII.

Crioprecipitados têm alta concentração de factor VIII sendo obtidos pela centrifugação de plasma a 4ºC sendo ricos também em factor von Willebrand (mas não factor IX).

Quando se retira do sangue os glóbulos vermelhos ficamos com o plasma que contem todos os factores da coagulação embora numa concentração baixa, assim será necessário uma volume elevado para repor o factor em falta.

A administração deverá ser sempre o mais precoce possível após sintomatologia compatível com hemorragia. Em doentes jovens actualmente recomenda-se um regime profilático em que existe administração do factor em falta 1 a 3 vezes por semana permitindo-lhes uma vida normal sem as complicações da hemofilia.

Os doentes devem evitar medicação anti-inflamatória que alterem a função plaquetar (aspirina por exemplo)

Existem complicações da terapêutica?

Sim, desde alergias aos concentrados, desenvolvimento de inibidores (anticorpos dirigidos contra os factores presentes no concentrado) e infecções víricas, actualmente muito raras.

Existe cura?

Existem estudos de terapia genética, com o objectivo de transferir para o genoma de algumas células do doente o gene “normal” para o factor em falta, mas, actualmente, não existe cura, mas apenas o tratamento crónico de substituição.

domingo, 30 de janeiro de 2011

O caso da Inês

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Proteína induzida pelas células estaminais responsável pelos efeitos terapêuticos em lesões cerebrais

Uma equipa de investigadores alemães identificou uma proteína com um papel importante no mecanismo subjacente ao potencial terapêutico das células estaminais do sangue do cordão umbilical no tratamento de lesões cerebrais. O estudo encontra-se publicado no Journal of Neuroscience Research.
Vários estudos têm mostrado que a transplantação de células do sangue do cordão umbilical exerce efeitos terapêuticos em diferentes modelos animais de lesões do sistema nervoso central, incluindo danos cerebrais após hipóxia isquémica neonatal, situações que nos humanos se podem traduzir no surgimento de paralisia cerebral.
Desconhecem-se, no entanto, os mecanismos pelos quais as células transplantadas exercem efeitos benéficos nos tecidos lesados, bem como os factores responsáveis pela migração celular para os locais afectados e as interacções entre as lesões e as células transplantadas.
A investigação agora realizada revela que a proteína estudada funciona como um sinal para a condução das células mononucleares do sangue do cordão umbilical para a área afectada, em ratos com lesão hipóxico-isquémica cerebral perinatal.
Pensa-se que a indução da proteína em resposta às lesões cerebrais possa ter várias funções, incluindo efeitos na regeneração de vasos sanguíneos e/ou na migração dirigida de células endógenas e exógenas para os locais afectados.
David Ferreira, médico, afirma que "trata-se de um trabalho de investigação que vem clarificar o processo de migração das células mononucleares do sangue do cordão umbilical para a área afectada com lesão hipóxico-isquémica cerebral perinatal, podendo assim contribuir para a definição de novas terapêuticas no tratamento deste tipo de lesões."